Tay Zonday e sua chuva de chocolate

Com quase um ano de atraso, conheci Tay Zonday, o novo Barry White. O Jovem de 24 anos se chama na verdade Adam Nyerere Bahner, trabalha vinte horas por dia para explicar à mídia desconectada porque virou um fenômeno na mídia conectada. Ora, prá mim tá na cara, ele parece demais com o Michael Jackson. E canta como o Barry White. Nasceu para aquilo mesmo. Mas não fica só nisso.

Chocolate Rain, sua principal canção, com 19 milhões de entradas no Youtube em um ano, tem aquele efeito hipnótico igual a Geraldo Vandré em Prá não dizer que não falei das flores. Dois acordes, uma letra enigmática com imagens assustadoras, fome, canhão, armados, tudo o que precisava ser ouvido naqueles tempos bicudos de Ditadura no Brasil.

Em Chocolate Rain, são dois arpegios no teclado, a letra reflete sobre discriminação racial desde o título, que é um verso repetido ad-infinitum. E críticas à política “assustacionista” da mídia e governo americanos. Eles assustam para controlar e ter audiência, é a tese geral, quem viu Michael Moore em Tiros em Columbine sabe o porquê. Mas não é só isso.

A voz de Tay é a bossa nova dele. Bem grave, meio suja no timbre, bem afinada e com aquele jeitão americano de musical da Broadway. Ele é magro e baixinho, não tem expressão corporal, nos programas de entrevista só fala, os braços ficam imóveis. Sugere algum problema físico ou falta de atividade física. Deve ser nerd, ele diz que veio de Marte. Foi o que disse numa das muitas entrevistas que concede desde que explodiu no YouTube com 4 milhões de entradas em quinze dias. E que prefere divulgar essa ficção a participar de qualquer outra ficção que a mídia vai construir sobre ele. Wise Guy.

Um monte de gente já pegou carona no sucesso, algo explorado em níveis industriais nos EUA, com Leis, lobistas, espião e tudo mais. Até eu, tô aqui escrevendo sobre ele prá me dar bem. Mas ele ainda não lançou um CD! No site oficial a página de downloads ainda não está pronta, no Myspaces do garoto-chocolate você pode ouvir mas não pode baixar. Periga virar um sucesso comercial antes de ser um sucesso musical. Tem várias músicas boas, Internet Dream é a melhor, na minha opinião.

Mas o original e grandioso nisso tudo é a forma como se chegou ao sucesso. As primeiras postagens foram num site de publicação de imagens e animes japoneses, 4chain, que foi multiplicado por um fórum, Something Awful, onde a nova inteligência se exercita com humor e comentários. Daí foi pro Youtube, depois, o mundo. Ou seja, não há como controlar a opinião pública dentro da Internet, por isso, vários talentos surgirão sem a dependência de barões da comunicação para promover e vender cultura. Aleluia ao futuro !!

Se eu fosse dono de uma rede de TV ou Rádio ou Jornal, ou tudo junto, como acontece no Brasil, tratava de vender tudo isso e assistir a concorrência ser engolida pelo futuro da Internet. Ou será que alguém ainda não percebeu que tem novidades demais na rede, tantas que nenhuma mídia ou jornal poderá controlar ou acompanhar? A PanAm de hoje é a TV Globo de amanhã.